Reportagem da Revista Veja desta semana:
A Polícia Federal prende os donos
e executivos de mais duas empreiteiras, atinge o topo da cadeia de comando do
esquema de corrupção da Petrobras e está a um passo do ex-presidente Lula.
A partir das primeiras delações premiadas de Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Yousseff, os responsáveis pela
Operação Lava-Jato se deram conta de que estavam lidando com um caso que só
ocorre uma vez na vida de um policial, de um promotor ou de um juiz. À medida
que os depoimentos se sucediam e mais provas iam sendo encontradas, o esquema
foi tomando a forma de uma gigantesca operação político-partidária e
empresarial destinada a levantar fundos com contratos espúrios de empresas com
a Petrobras.
As raízes do esquema começaram a ficar cada vez mais profundas, enquanto
sua copa passava a abranger políticos postados em galhos cada vez mais altos.
Em abril, Carlos Fernandes de Lima, um dos procuradores da Lava-Jato, disse em
uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que a investigação se tornara tão
ampla que chegaria a "mares nunca dantes navegados". Na sexta-feira
passada, a Lava-Jato aproou para praias que pareciam inatingíveis, prendendo os
presidentes das
duas maiores empreiteiras do Brasil - Marcelo Odebrecht,
presidente e herdeiro da empresa que leva seu sobrenome, e Otávio Azevedo, o
principal executivo da Andrade Gutierrez. O nome da operação da Polícia Federal
que fez as prisões não podia ser mais ilustrativo das pretensões dos
investigadores: "Erga Omnes", a expressão latina que significa "para
todos" e nos tratados jurídicos é usada para proclamar um dos pilares do
sistema democrático que diz que ninguém está acima da lei.
A Lava-Jato chegou ao topo? Não existe mais ninguém acima da lei em seu
radar investigativo? A resposta é não. A operação chegou aos mais altos
suspeitos do braço empresarial do esquema que desviou cerca de 6 bilhões de
reais dos cofres da Petrobras. O braço político, acreditam os investigadores,
pode subir mais um degrau além do ocupado, por exemplo, por João Vaccari,
tesoureiro do PT, preso em Curitiba. Os presos da semana passada podem fornecer
as informações que ainda faltam para que a lei identifique e alcance quem
comandava o braço político do esquema criminoso. Quem permitia o funcionamento
de uma engrenagem que abastecia PT, PMDB e PP com dinheiro sujo. Disse o
delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula: "A ideia é dar um
recado claro de que a lei vale para todos, não importa o tamanho da empresa,
seu destaque na sociedade, sua capacidade de influência e seu poder econômico".
O juiz Sérgio Moro determinou a prisão de Marcelo Odebrecht e Otávio
Azevedo, os presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, por considerar que
os dois capitaneavam o cartel de empresas que ganhava contratos da Petrobras em
troca do pagamento de propina a funcionários da estatal e a políticos. Em seu
despacho, Moro registrou que delatores do petrolão haviam dito que a Odebrecht
pagara subornos no exterior por meio da construtora Del Sur, sediada no Panamá.
A Odebrecht vinha negando ter relação com a Del Sur. Moro também anotou a
existência de um depósito feito pela Odebrecht numa conta no exterior
controlada por Pedro Barusco, o delator que servia ao PT e prometeu devolver
aos cofres públicos 100 milhões de dólares. Moro determinou a prisão de outros
cinco executivos, três da Odebrecht e dois da Andrade Gutierrez, e expediu 38
mandados de busca e apreensão.
Resta apenas pegar a estrela principal no firmamento governista. Os
procuradores e os delegados estão convictos de que a estrela dava expediente no
Palácio do Planalto.
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